O Campo do Onze, em Recife, é um símbolo do futebol amador e da cultura local, conhecido por seu formato torto preservado após a reforma com gramado sintético do Projeto Gramadão; construído em 1950, revelou grandes jogadores e hoje abriga projetos sociais liderados por ex-atletas, usando o futebol para transformação social, apesar das controvérsias geradas pela reforma.
O campo torto do Recife, conhecido como Campo do Onze, é uma verdadeira joia do futebol amador local. Construído em 1950, ele ganhou um formato único que a comunidade acabou abraçando com tanto carinho que rejeitou uma reforma que mudaria sua essência. Neste artigo, vamos explorar a história desse campo, a polêmica reforma com gramado sintético e o impacto que ele tem na formação de jogadores na região.
História do Campo do Onze no Recife
O Campo do Onze é um marco do futebol amador em Recife, especialmente no bairro de Santo Amaro. Construído em 1950, ele não é apenas um campo de terra comum — sua história é cheia de peculiaridades que o tornam único. Em 1990, uma avenida cortou parte do terreno, transformando o campo em um losango torto, com uma lateral mais curta que a outra. Essa característica, longe de ser vista como um problema, virou um símbolo de identidade para a comunidade local.
Ao longo das décadas, o campo se tornou palco de muitos jogos memoráveis e foi o berço de talentos que hoje brilham no futebol profissional. Nomes como Rogério, campeão brasileiro pelo Sport em 1987, e Kássio, campeão da Copa do Brasil em 2008, começaram suas carreiras jogando ali. Além disso, seis jogadores formados no União Futebol Clube, time mais antigo do bairro, atuam atualmente em clubes profissionais pelo Brasil.
Mais do que um espaço para partidas, o Campo do Onze é um centro comunitário, onde antigos craques hoje ensinam as novas gerações. Rogério e Kássio, por exemplo, são professores de futebol que ajudam a manter viva a chama do esporte no bairro, mostrando que o campo é muito mais que um terreno de jogo — é uma verdadeira escola de vida e futebol.
O Projeto Gramadão e a Reforma Polêmica
O Projeto Gramadão do Recife surgiu com a proposta de modernizar os campos de terra da cidade, levando gramados sintéticos para melhorar a qualidade das partidas e a experiência dos jogadores. No caso do Campo do Onze, a prefeitura planejou não só a instalação do gramado, mas também a correção do formato torto do campo, o que gerou uma verdadeira polêmica.
A reforma previa que o campo fosse “desentortado”, transformando seu formato único em um retângulo perfeito e reduzindo a área total do terreno. Para a comunidade local, acostumada com o formato losangular que dava identidade ao campo, essa mudança foi inaceitável. A reação foi imediata: houve até ameaça de queimar as placas de grama recém-instaladas.
O protesto chamou a atenção do prefeito João Campos, que decidiu ouvir diretamente os jogadores e moradores. Para surpresa geral, quase unanimemente, a comunidade preferiu manter o campo “troncho” — como eles carinhosamente chamam o formato torto. O prefeito, com bom humor, reconheceu que o campo não é o mais alinhado do mundo, mas que está “top” do jeito que é, valorizando a tradição e o sentimento local.
Além do gramado sintético, a reforma incluía a construção de um vestiário no espaço que sobraria com a correção do campo. Porém, como a comunidade optou por preservar o formato original, o projeto foi ajustado para respeitar a identidade do Campo do Onze, mostrando que às vezes o valor cultural pesa mais que a modernização.
Jogadores e Projetos Sociais do Campo do Onze
O Campo do Onze não é apenas um espaço para jogos amadores, mas um verdadeiro celeiro de talentos do futebol pernambucano. Vários jogadores revelados no União Futebol Clube, o time mais antigo do bairro de Santo Amaro, hoje atuam profissionalmente em clubes de destaque pelo Brasil, como Julio Rodrigues, Edson Lucas, Ed, Lucas André, Pedro Maia e Juninho.
Além disso, o campo é palco de projetos sociais que buscam transformar vidas através do esporte. Rogério e Kássio, dois dos maiores craques formados ali, retornaram para contribuir como professores de futebol. Rogério atua na escolinha da ONG Associação Oásis da Liberdade, enquanto Kássio lidera o projeto social K10, que oferece treinamento e apoio para jovens atletas da comunidade.
Esses projetos não só promovem o futebol, mas também fortalecem o tecido social do bairro, oferecendo oportunidades e um caminho para que a garotada possa sonhar alto. O novo gramado sintético, apesar das controvérsias, é visto como uma ferramenta que pode ampliar ainda mais o alcance desses programas, ajudando a formar novas gerações de jogadores e cidadãos.